Capítulo 15, Marcas.
15
-Alô?!
-Nat? – Sua voz era embargada, e
demonstrava preocupação.
-Sim.
-Nat, preciso que mantenha-se calma por
favor.
Quando alguém me pedia calma antes de
começar uma frase, calma era a última coisa que eu ficava. Ele estava me
deixando nervosa. Alguma coisa tinha acontecido.
-O que aconteceu? – Falei mais preocupada
do que parecia.
-Victor sofreu um acidente de moto.
-O que? Como assim? O que aconteceu? Ele
está bem? – Já não me preocupava mais com não mostrar preocupação, minha voz
embargou, um nó súbito na garganta. Meus olhos se encheram de lágrimas
novamente.
-Calma Natalie. Ele saiu de casa meio atormentado,
preocupado. Disse que ia em sua casa. Então, umas 20h00 recebemos um telefonema
dizendo que ele havia sofrido um acidente com um caminhão. Parece que ele
estava apressado demais e não viu o caminhão se aproximando na encruzilhada e
não parou. O resto você pode deduzir.
O
sonho, tudo que vinha em minha mente era o sonho. Minha voz sumiu. As lágrimas
invadiram meu rosto, e um sentimento cortante de culpa invadiu meu coração. Fiquei
em estado de choque por um tempo.
-Natalie?
Voltei a conversa, chorando, porque
realmente mesmo que eu quisesse, conter as lágrimas era algo impossível. – E
como ele está?
-Ele está em coma.
Chorei desesperadamente. Meu mundo havia
caído naquele momento. Não havia palavras pra descrever o que eu sentia. Seria
melhor ser atingida por mil facas afiadas, do que ouvir aquilo. Parecia que
tudo se repetia, eu não podia passar por aquilo de novo, não queria ser
novamente uma criança indefesa perdendo seu chão.
-Estou indo pro hospital agora. – Falei
pegando minha bolsa e correndo em direção a minha mãe.
-Nat, fica calma por favor.
-Não dá Willian, não dá.
-Eu sei que não, mas faça o possível.
-Eu vou fazer.
Ele desligou o telefone e eu fui até a minha
mãe, desesperada, com vontade de gritar. A culpa era algo que me agonizava. E
aquele sonho? Apertava ainda mais meu coração. Foi por minha causa que ele saiu
assim, foi porque eu não respondi a sms
a tempo, porque estava simplesmente dormindo enquanto meu mundo desabava.
-Mãe, me leva no hospital agora, por favor.
-O que foi minha filha? – Sua expressão foi
de susto e preocupação, ela largou suas agulhas de tricô e me acompanhou.
-Te conto no carro, agora vamos.
John me olhava sem entender nada. Entrou
dentro do carro primeiro, querendo saber o que aconteceu. Entramos no carro,
ela deu a partida e acelerou. As lágrimas não paravam de escorrer em meu rosto,
eu não conseguia parar. E aquele sonho agora parecia algum tipo de premonição.
Alguém estava querendo me avisar o que estava acontecendo. Aviso de Deus? Não
sabia, apenas me assustava tudo aquilo. Estava mais uma vez perdida, só que
dessa vez, não me encontrava.
-Quando estiver pronta pra me falar o que
houve estou aqui. – Minha mãe falou de um jeito, tentando passar uma tranquilidade
que era evidente em seus olhos que não existia.
-Victor sofreu um acidente de moto, e a
culpa é toda minha. – Falei com a voz embargada, e as lágrimas rolando, no meio
de soluços.
-Como assim? Ele está bem? Explica isso
direito. – Não dava pra negar o nervosismo dela.
-Nós brigamos mais cedo, e eu fiquei muito
chateada com ele. – Minha voz já era quase inaudível, embargada, e meu rosto
molhado. - Então fui dormir pra esquecer, e enquanto isso ele me mandou uma sms pedindo perdão, eu não respondi
porque realmente não vi. Quando acordei já fazia muito tempo que ele havia
mandado a sms. Foi quando Willian me
ligou e disse que ele havia sofrido um acidente de moto, saiu de casa
preocupado e apressado pra falar comigo. Ele achou que eu não o tinha perdoado.
Na pressa de falar comigo ele não viu o caminhão que vinha e não parou na
encruzilhada. – As lágrimas rolaram com mais intensidade ao chegar nessa parte
da história, ao imaginar Victor, o meu Victor sofrendo tudo isso enquanto eu
dormia. – Ele bateu no caminhão e agora está em coma, tudo por minha culpa.
-Filha não foi culpa sua, a imprudência foi
dele. Não se culpe por isso. – Minha mãe estava com os olhos marejados de água
por me ver chorar. – Ele vai ficar bem.
-Foi culpa minha sim, se eu tivesse
respondido, nada disso teria acontecido. – Minha voz ficou alterada
automaticamente ao pronunciar essas palavras.
-Não seja tão dura consigo mesma, as vezes
as coisas acontecem assim porque tinha que ser assim. E só lá no futuro vamos
passar a entender isso. – Minha mãe entendia disso melhor do que ninguém, mas
não dava pra admitir aquilo, não dava. Não de novo.
-Mãe, não adianta. Não podia ser assim,
por que comigo de novo? Por quê? Isso não é justo. Victor não merecia isso, não
ele. Eu amo Victor mãe, eu amo mais do que eu podia imaginar que amaria outra
pessoa na vida, mais do que ele imagina que eu amo.
-Eu sei filha. Agora nada vai parecer
justo, mas você precisa se acalmar, ele vai ficar bem, e o futuro dirá o porquê
de você passar por isso.
Apenas fiquei em silêncio, nada mais parecia
fazer sentido pra mim. Era minha culpa, minha culpa, só minha. E aquele fardo
de dor feria mais do que qualquer outra coisa. Eu queria estar no lugar dele,
não era justo com ele, não era justo comigo. Não era.
Chegamos ao hospital. Eu saí correndo de
dentro do carro deixando tudo pra trás. Minha mãe de primeira ficou com John no
carro, tentando se acalmar para poder me acalmar depois. Ignorei tudo e todos e
fui correndo ao balcão de informações, sem ligar pra mais nada. Tudo o que me
importava agora estava internado em um daqueles quartos e eu só precisava saber
em qual. A moça que estava no balcão, era ruiva e tinha sardas por todo o
rosto. Ela me olhou assustada.
-Qual é o número do quarto de Victor
Mansfield? Sou a namorada dele e preciso vê-lo.
Ela olhou algumas listas e só então
respondeu. – Lamento senhorita, mas ele não pode receber visitas. Ele foi
internado não tem muito tempo, os médicos tem uma bateria de exames pra fazer
nele daqui a pouco. Me desculpe.
-Você não entende? – Eu alterei a voz, e
não contive mais lágrimas que se esvaiam. – Eu o amo, eu preciso vê-lo, ele é o
meu namorado, a minha vida está ali em um desses quartos e você não quer me
deixar entrar? – Ela me olhava apavorada, quando percebi que já estava
gritando, baixei o tom de voz e tentei manter a calma. – Se coloque no meu
lugar por favor, eu acabei de saber do acidente, eu preciso vê-lo. Meu coração está
feito em pedaços, por favor moça me ajude.
-Me perdoe senhorita, penso que deve ser
difícil, mas você vai ter que esperar o horário de visitas.
Eu estava prestes a ignorar tudo e entrar
naqueles corredores procurando Victor em cada quarto, quando Catarina veio em
minha direção, com os olhos inchados.
-Calma Nat, realmente os médicos precisam
desse tempo. Tente ficar tranquila, nós também não o vimos. Mas eu tenho fé de
que vai ficar tudo bem minha flor.
Eu não aguentei, mergulhada em lágrimas a
abracei com força. Desabei nos braços dela. Chorei mais ainda, pondo tudo pra
fora. Ela também não conteve as lágrimas, mas tentou manter a calma e passou a
mão por entre os meus cabelos, na tentativa de me tranquilizar. – Eu sei, eu
sei minha flor. Meu coração está mais apertado que o seu, mas vamos permanecer
fortes, ajudando uma a outra com fé. Ele vai ficar bem, eu sei disso.
Não falei nada, permaneci em silêncio por
um instante. Me contive, soltei-a, e enxuguei as lágrimas no meu rosto. – A
senhora está certa.
-Vai
pra casa, descansa, nós te avisamos quando eles estabelecerem um horário de
visita.
-Não.
Eu quero ficar aqui. Eu preciso ficar aqui.
-Você
precisa descansar, amanhã você tem aula. E com a loja nem se preocupe que o
Willian vai deixar fechada essa semana.
-Não
tenho cabeça pra pensar em aula. Eu preciso ficar aqui.
-Tudo
bem, eu não vou insistir, você faz o que achar melhor.
Eu
forcei um sorriso sem mostrar os dentes. Minha mãe se aproximou, junto com
John. Pra ela devia ser um caos entrar naquela área do hospital, as lembranças
da esperança que ela tinha de que meu pai poderia voltar a respirar deviam
atormentá-la. Eu me sentei, e mamãe ficou conversando com a Catarina. John
sentou-se do meu lado. Não queria que ele ficasse sabendo de nada disso, era
informação demais pra uma criança de 11 anos. Ele me olhou com olhar caridoso,
enquanto eu permanecia de cabeça baixa, com os olhos marejados novamente, me
sentindo culpada por tudo. Ele me abraçou, parecendo adivinhar meus
pensamentos.
-Mana, não foi culpa sua. Ele vai ficar
bem, não se preocupe.
Eu forcei um sorriso e retribuí o abraço. –
Pirralho, eu não queria que você tivesse que ouvir essas coisas, me ver desse
jeito. Queria poder te poupar de tudo e de todos. Queria que você fosse criança
pra sempre, sem ter que enfrentar as coisas ruins da vida.
- Mas mana, crescer é isso, e uma hora eu
vou ter que ver a vida como ela é, e quer saber, quero ser forte igualzinho a
você.
Ele mostrou uma maturidade incrível quando
falou isso, por um instante aquilo foi como uma luz, algo que me orgulhasse na
minha vida, um motivo pra sorrir no meio daquele mar de tristeza e desespero. –
Ai pirralho, você vai ser bem mais forte do que eu, eu tenho certeza. E ainda
vai poder ser assim sem repetir os mesmos erros de sua irmã.
-Se esses erros fizerem eu me tornar a pessoa
que você se tornou, eu repito todos eles.
Eu sorri, desta vez por espontaneidade. Dei
um beijo em sua testa – Você vai ser um homem bem melhor do que eu, eu tenho
certeza.
Ele me abraçou de novo, me trazendo um
pouco de paz em meio a guerra. Minha mãe veio em nossa direção. Preocupada.
-John e Nat, vamos pra casa? Quando o
horário de visitas for estipulado a Catarina vai avisar.
-Não mãe, - Eu disse com a voz mais suave,
mas ainda embargada, com os vestígios do choro. – Eu quero ficar aqui, eu
preciso ficar aqui.
-Eu vou ficar aqui com a Nat. – John disse
certo de que conseguiria.
-Natalie, eu vou deixar você ficar mais um
pouco. Mas o John vai comigo pra casa. Amanhã você não vai faltar a aula, e
você precisa descansar, hospital não é um lugar bom pra isso.
-Mas, mãe... – John resmungou.
-Vai lá John, não se preocupe, eu vou
ficar bem. Eu te amo meu pirralho.
-Tudo bem, eu também te amo mana. – Ele
pareceu desapontado.
-Me ligue quando quiser ir pra casa, eu te
busco. – Minha mãe falou com semblante preocupado.
-Tudo bem.
Eles foram pra casa, e eu fiquei lá
naquela mesma cadeira. Tudo o que eu queria era acordar, estar na minha cama e
tudo isso ter sido apenas um terrível pesadelo. Mas não era bem assim. Willian
e Catarina andavam de um lado pro outro, conversavam com pessoas que tinham
visto o acidente. Eu não queria saber como havia acontecido, só queria ver
Victor, só queria saber que ele estava bem. Só queria ver ele saindo por uma
daquelas portas sem nenhuma fratura, vindo ao meu encontro e dizendo que me amava.
Só queria poder olhar dentro dos seus olhos azuis e ter certeza de que tudo estava
bem, poder abraçá-lo e amá-lo pro resto da vida. Mas o medo estava me tomando,
nada é pior do que essa incerteza do futuro. Nada era pior do que saber que a
vida de quem você mais ama está em jogo, nada pior do que saber que a sua vida
está em jogo. Isso era muito assustador, me sentia novamente a menina indefesa
de 11 anos que via suas asas de borboleta serem cortadas por um lapso de ira do
destino. E a culpa era minha. Toda minha. Só minha.
Eu olhava para as enfermeiras, mas elas
estavam correndo para vários quartos, não dava pra saber qual acompanhava
Victor. Olhei no relógio, 21h43. Nada de nenhum médico. Aquela espera estava me
sufocando mais ainda. Me colocava a olhar pro nada e me perder em meus
pensamentos mais obscuros. As lágrimas ainda não haviam secado, a fonte delas
estava cheia com tudo o que precisava para funcionar; Angústia, medo, culpa,
tristeza, saudade, ansiedade, raiva de mim mesma. E parecia que havia uma mão
que insistentemente apertava o meu coração fazendo toda essa fonte funcionar
mais depressa. Ouvi uma voz conhecida vindo da portaria. Era Lara e seu marido.
Lara caminhava depressa, com a expressão mais preocupada que eu houvera visto
até agora. Ela já sabia de tudo o que havia acontecido, sabia das restrições e
horários de visitas. O que me surpreendeu foi que ao invés de falar com seus
pais, ela veio direto até mim. Sentou-se do meu lado enquanto seu marido foi
falar com Catarina e Willian.
-Natalie, olha pra mim querida. – Eu olhei
pra ela, com vontade de morrer, agora me sentindo mais culpada ainda. – Enxuga
essas lágrimas, você precisa ser forte, ele te ama e precisa de você agora mais
do que nunca, mas você precisa ter mais fé.
Da família de Victor, Lara era minha amiga
mais chegada, sentia que precisava por pra fora o que estava me atormentando. –
Lara, eu estou me sentindo tão culpada.
-Você não tem culpa nenhuma Natalie. Casais
brigam o tempo todo, mas não é por isso que um deles vai se atravessar na
frente de um caminhão. Entende uma coisa, foi um acidente ok?
Contei a ela o que realmente havia
acontecido, fato por fato, e nada me liberava da culpa.
-Natalie, agora você vai se culpar por ter
dormido e não ouviu o telefone tocar? Para com isso, Victor foi imprudente, foi
um acidente. Não coloque esse fardo tão pesado em suas costas
desnecessariamente, não carregue esse sentimento. A culpa não foi sua. – Ela me
abraçou, e aquele abraço foi sincero e reconfortante, foi como receber um
pouquinho das forças dela. – Vem vamos lá falar com papai e mamãe e esperar os
médicos darem notícias. Catarina estava abraçada em Willian e nenhum dos dois
estava animado. Catarina estava com os olhos inchados, e olheiras evidentes.
Pela primeira vez vi Willian sério, e abatido. Ele nunca estava assim, estava
sempre rindo de tudo e de todos. Lara os cumprimentou, e perguntou por
notícias. Nada. Era só o que todos sabiam dizer.
Um tempo tenso se passou, em que todos se
entreolhavam, olhavam pro chão, apresentavam sinais de choro ou abatimento
evidente. Até que, o médico de plantão que atendera Victor apareceu. Ele não
parecera nada feliz, isso me apavorava mais ainda, minhas pernas amoleceram, meu
coração disparou e por alguns instantes achei que simplesmente desmaiaria. Não
aguentei a ansiedade e a afobação e fui a primeira a questioná-lo.
-E então doutor como ele está? – Não
escondi a preocupação.
-O diagnóstico não é bom, a princípio
fraturou gravemente o fêmur, e lesionou os músculos da perna. Talvez ele não
volte a andar. Ele fraturou a bacia, quebrou uma costela.
Meus olhos se encheram de lágrimas, mas me
contive. Catarina entrou em choque, Lara foi a única corajosa a perguntar.
-Mas doutor, me diz que ele não corre risco
de vida, por favor. – Seu rosto era de quem segurava o choro.
-Infelizmente não posso iludi-los, com a
batida, mesmo com o capacete a fratura foi grande ele criou um coágulo no
cérebro e a cirurgia é sim arriscada.
Alguns danos foram causados além do coágulo, e talvez ele fique com muitas sequelas,
inclusive na área do cérebro que afeta a fala. E o coma, bom, não sabemos
quando ele acorda, ou se...
Não dava pra aguentar ouvir aquele médico
falar aquelas coisas e saber que ele falava de Victor, do meu Victor. Não pude
terminar de ouvir, minhas lágrimas já não se continham.
-Por favor doutor, não fale uma coisa
dessas.
-Desculpa, mas preciso alertá-los quanto a
realidade dos fatos. – Sua voz tentava mostrar uma tranquilidade inexistente.
Seu olhar era piedoso. - Victor está
entre a vida e a morte, e as chances de vida, são poucas. Bom, era isso, nós
vamos fazer mais alguns exames e dentro de uma hora vocês já poderão vê-lo.
Não conseguia parar de chorar, não
conseguia mais ouvir nada, apenas o barulho atordoante dos meus pensamentos
conturbados. O pesadelo que tive mais cedo, as palavras do médico, a culpa, a
imagem de Victor com todas aquelas sequelas. Senti uma fisgada na cabeça, a dor
era forte. Só consegui ver o rosto de Catarina, e a lágrima que rolava em seu
rosto enquanto Willian tentava manter a calma abraçando-a. Nem Lara que parecia
tão forte aguentou dessa vez, abraçou-se em seu marido com os olhos marejados
de lágrimas. Tudo estava perdido, sentei-me com a cabeça entre as mãos, com uma
vontade súbita de trocar de lugar com Victor, e aquele cheiro de hospital só
tornavam as coisas piores. Fiquei ali por muito tempo, tentando por as ideias
no lugar sem conseguir. Uma hora depois uma enfermeira veio na direção de
Catarina e Willian.
-Vocês são os pais de Victor?
-Sim, somos.
-Já podem vê-lo, ele está respirando por
tubos, e está em coma como sabem, mas podem vê-lo.
Eu saí da cadeira correndo, eu ia vê-lo, e
por mais que ele não me visse, olhar pro seu rosto me traria um pouco de paz.
Fomos todos até o quarto. Quando cheguei na porta, entrei em estado de choque.
Era Victor ali cheio de tubos, com feridas nos braços e cortes não muito
grandes no rosto. Parecia apenas dormindo. Catarina e Willian se abraçaram. O
desespero era visto de longe no olhar dos dois, era o garotinho deles que
estava ali. Lara se aproximou da cama, enquanto seu marido se sentou no
sofazinho que estava ao lado.
-Ei, Vitinho, levanta logo daí. Já estou
morrendo de saudades de te incomodar. – Ela fez uma pausa, engoliu a seco, seus
olhos encheram de lágrimas e sua voz ficou embargada, vendo aquela cena ali da
porta e chorei mais ainda, era impossível me conter. – Eu preciso que você
acorde, todos aqui precisam, você é forte, sempre foi. Lembra aquela vez que
nós dois caímos no concreto? Você se machucou bem mais do que eu, e não chorou
em momento algum, já eu chorei e berrei. Você sempre foi mais forte, sempre me
protegeu, eu sempre te admirei por isso. É agora que você pode mostrar isso a
todos esses médicos idiotas, acordando e levantando daí inteirinho. Eu te amo.
Ela se afastou da cama, foi até o sofá e
continuou a chorar no ombro de seu marido. Não sabia se podia chegar perto
dele, não sabia se aguentaria aquela situação. Meu peito estava cada vez mais
apertado, quando resolvi me aproximar dele. Minhas lágrimas não se continham,
eu segurei a sua mão. Não sabia se ele podia me ouvir, mas gostava de acreditar
que sim então comecei a falar.
-Victor, - Fiz uma pausa, enxugando as
lágrimas e tentando recuperar as forças. – meu Victor. Me perdoa meu amor, me
perdoa por não ter te respondido antes, me perdoa por tudo. Eu preciso de você
Victor, eu preciso muito de você aqui comigo, eu não sei mais o que fazer. –
Passei a mão com delicadeza em seu rosto. – Volta pra mim, acorda, você precisa
acordar. – Minhas lágrimas ficavam cada vez mais frequentes. – Eu te amo tanto,
mas tanto, eu não estou mais aguentando isso, nunca fui forte como você, você
sabe disso. – Fiquei em silencio, mas não conseguia sair de perto dele. Era
horrível isso, ele estava ali, lindo como sempre, mas ao mesmo tempo não estava.
-Uma pessoa apenas pode ficar com ele
durante a noite. – A enfermeira disse com uma pasta nas mãos.
-Eu fico. – Eu logo me disponibilizei.
Parecia o melhor a se fazer, parecia que eu me sentia mais segura com ele.
-Não Nat, eu fico, eu preciso fazer isso, é
o meu filho. E sua mãe vai ficar preocupada se você ficar. Fica tranquila
querida, eu vou ficar, você pode ir pra casa descansar, você precisa disso,
está pálida, com os olhos fundos.
Não queria ir pra casa, não ia mudar em
nada, não ia conseguir descansar sabendo que Victor estava ali. Mas sabia que Catarina
precisava daquilo mais do que eu. – Tudo bem então.
-Bom, então, infelizmente todos vão ter que
sair agora, só a senhora Mansfield poderá ficar.
Willian, Lara e Michael (seu marido) foram
até a porta. Eu ainda ao lado de Victor, olhei pela última vez em seu rosto,
dei um beijo em seus lábios. – Eu te amo Victor. – E também saí. Meus olhos ardiam
por causa das lágrimas frequentes, cerrei-os por um segundo para que passasse,
não adiantou.
-Vamos embora Nat? Não há mais nada pra
fazer aqui. – Disse Willian decepcionado.
-Eu não quero ir Willian, eu quero ficar
aqui, eu quero estar aqui quando aquelas enfermeiras saírem do quarto dizendo
que Victor acordou.
-Nat, se isso acontecer elas vão ligar, vão
avisar. Mas não vai fazer bem pra nós ficarmos aqui, precisamos descansar ou
quando Victor levantar estaremos com as caras mais feias que alguém poderia
ter, e isso não fará bem pra ele.
Eu sorri, Willian era o único capaz de
arrancar sorrisos das pessoas mesmo quando estava com o coração na mão.
-Tudo bem, eu vou pra casa.
-Vamos lá, eu te levo.
-Não, acho que vou caminhando, eu preciso
pensar um pouco, tentar por as coisas dentro de mim no lugar.
-Sua mente deve estar um pouco bagunçada
não é?
-Está muito bagunçada.
-Mas já está tarde, é perigoso você se
arriscar a sair sozinha assim. Eu te levo, pode deixar.
Sabia que ele não ia descansar enquanto não
me largasse na frente de casa, então aceitei a carona, mesmo relutante. Cheguei
em casa, minha mãe estava com os olhos estalados ao lado do telefone me
esperando.
-Achei que você fosse ligar.
-Willian se ofereceu pra me trazer.
Ela apenas concordou com a cabeça, sabia
que não havia mais nada a dizer. Fui direto para o meu quarto, me deitei e mais
uma vez chorei como se fosse meu último dia de vida, e confesso que queria
mesmo que fosse o último. Fiquei com o celular na mão na esperança
incontrolável de receber boas notícias, mas nada acontecia. E o sonho, o que
foi aquilo? Um presságio? Um aviso? Mais provável que seja algum tipo de aviso
do meu inconsciente ou sabe lá o que. Minhas lágrimas não cessavam, e
aumentavam sempre que me vinha à mente a imagem de Victor naquela maca. Chorei,
até o cansaço me fazer não aguentar mais e cair no sono, pouco mais de 4h00 da
manhã.
Comentários
Postar um comentário