Capítulo 11, Marcas.

   Enfim, eram 19h00 e achamos melhor irmos para o local do show para garantimos bons lugares, nossos ingressos eram Vips, mas era melhor não arriscarmos. O  show começaria às 20h00 com apresentações de bandas de rock gospel brasileiras, afinal a Skillet era uma banda gospel, mas eu e Victor nem ligávamos pra esse fato, apenas curtíamos as músicas. Quando chegamos, tinham muitas pessoas na fila para a pista, muitas mesmo, mas pra área Vip tinham bem poucas (para a nossa sorte). Ficamos lá esperando os portões se abrirem. Willian abraçou sua esposa por trás (eles formavam um lindo casal, me lembravam meu pai e minha mãe, e por um segundo fiquei olhando angustiada, não sei se eles perceberam), Victor também me abraçou, o que me deixou um pouco constrangida.
   -Victor, você ficou doido? – Falei no ouvido dele. – Seus pais estão logo ali, no carro tudo bem eles mal enxergavam a gente, mas aqui acho que estamos bem visíveis.
   -Fica tranquila, eles não se importam, eu já disse que eles te amam.
   Eu apenas ri, e consenti porque Victor estava realmente sendo sincero. Estava tão feliz que não dava pra disfarçar. Esperamos durante um tempo até as portas se abrirem e os seguranças começarem a conferir os ingressos. Entramos na área Vip, e dentro de meia hora começaram os shows das bandas gospel. Acabamos nos afastando de Catarina e Willian, o que foi melhor pra que ficássemos mais a vontade. Ficamos abraçados ouvindo as músicas, dava pra curtir o som deles. Mas tinha uma coisa a mais naquelas músicas, era como se elas trouxessem uma paz de espírito, uma coisa boa. Quando a primeira banda estava terminando seu show, o vocalista exclamou para a plateia:
   -Deus nos amou de tal maneira, que deu seu único filho pra morrer por nós, e o que nós temos feito por Ele? Muitas vezes viramos as costas pra sua palavra sem nos dar conta de que Ele nos ama, e só quer o nosso melhor, sem nos dar conta que é só nele que temos a verdadeira felicidade, e não essa vida passageira.
    Aquilo me acertou como uma flecha, e eu não fazia idéia do porquê, mas aquilo me tocou como se aquelas coisas estivessem sendo ditas exclusivamente pra mim, por um segundo parecia que aquela multidão ensandecida não existira, que Victor não existira. Parecia que eu era única que precisava ouvir aquilo. Fiquei perplexa, olhando diretamente ao palco.
   -Amor? Você está bem? – Victor indagou preocupado.
   -Sim, sim, - Voltei à realidade.
    Começamos a curtir o show de verdade, a área Vip era bem na frente do palco, e eu e Victor estávamos bem no centro, e o que nos impedia de chegar ao palco eram as grades de proteção. Ele me soltou e ficou ao meu lado. Pulávamos quando as bandas pediam pra pular, gritávamos quando pediam pra gritar, só pela diversão, ríamos muito, muito mesmo. As luzes do palco eram incríveis, nunca tinha visto um palco tão bem estruturado, algumas vezes as luzes piscavam no ritmo da bateria e a fumaça dava mais um efeito incrível, era tudo mágico demais. 00h00 em ponto o locutor veio até o palco:
   -Então, meus queridos, chegou a hora mais esperada da noite...
   Nessa hora eu quase chorei, meu coração disparou como se fosse simplesmente se jogar pela minha boca, olhei pra Victor que me abraçava novamente pela cintura atrás de mim. Ele também sorria com um brilho nos olhos.
   -É agora... Com vocês, SKILLET!
    Eu comecei a berrar igual a uma louca, Victor começou a assoviar e meu coração acelerou mais ainda. O palco todo escureceu, até que se ouviu os violinos na harmonia da introdução da música “Comatose”  meus olhos se encheram de lágrimas, até que Jen Ledger rompeu a harmonia com suas batidas estrondosas na bateria, a cada batida as luzes piscaram com as guitarras entrando na música. Era mágico demais, eu gritava vendo John Cooper ali à alguns metros de distancia de mim. Era como um sonho, não dava pra acreditar. Sorrindo, uma lágrima escorreu em meu rosto. Victor me soltou e ficou ao meu lado novamente pra que assim pudéssemos pular com mais facilidade. No auge da música faíscas saiam do palco, os efeitos de fumaça deixavam tudo ainda mais “bosque encantado dos sonhos”. John Cooper era mais lindo do que eu imaginava, a Jen então, nem se fala. Olhei pra Victor e ele estava sorrindo, vidrado em Seth Morrison, o guitarrista. John Cooper também  falava muito no amor de Deus nos intervalos das músicas, e todas as vezes, aquilo me tocava, mas em segundos eu forçava qualquer tipo de pensamento a sair da minha mente. Ele falava coisas realmente tocantes, dizendo que Deus era o sentido de sua vida, e que as pessoas não podiam se envergonhar do evangelho de Cristo, tudo aquilo era fascinante, algo diferente ficou dentro de mim.
   Depois de umas cinco músicas, foi a vez da incrível música romântica e linda “Yours to hold”. Victor me abraçou novamente por trás e me deu um beijo no rosto. Quando a música chegou no seu auge, Victor me soltou e ficou de frente pra mim. Eu olhava pra ele sem entender absolutamente nada. Victor pôs a mão no bolso traseiro da calça, e eu fiquei com ar de curiosidade, na verdade, muita curiosidade. De repente, ele tirou uma caixinha preta aveludada do bolso e no meio daquela multidão inteira ele ajoelhou-se em um joelho só e abriu a caixinha. Dentro dela tinha uma luzinha que piscava e duas  alianças de prata lindas, extremamente brilhantes com uma linha de ouro no meio.
   -Natalie Parker Lewis, você quer namorar comigo? – Ele falou sorrindo, com uma empolgação imensa, na verdade, ele meio que teve que gritar pra que eu pudesse escutar no meio daquela multidão ensandecida.
   Eu fiquei perplexa com a atitude de Victor, achei tão linda que foi impossível conter a lágrima solitária de felicidade que escorreu deixando um rastro em meu rosto. Abri um sorriso e exclamei:
   -É claro que sim seu idiota!
   As pessoas que estavam ao nosso redor pararam pra olhar aquela cena, fazendo cara de que estavam achando muito fofa a atitude. Ele se levantou e sem demora o abracei por cima do pescoço, ele me abraçou pela cintura e eu, não contendo a felicidade e o amor ainda mais aparente o beijei. Meu batom vermelho borrou todo, e metade foi parar na boca de Victor. Então, ele rindo com o dedo tirou o borrado a minha boca e eu fiz o mesmo pra ele. Depois disso ele tirou a aliança menor da caixinha, pegou minha mão direita olhou bem nos meus olhos e sorriu, enquanto eu sorri de volta. Ele pôs a aliança no meu dedo anelar e deu um beijinho em minha mão. Ele pegou a aliança maior e me entregou.
   -Agora é sua vez.
   Eu sorri, peguei sua mão, pus a aliança no seu dedo anelar, e sem esperar muito simplesmente o abracei  bem apertado e ficamos abraçados até o final da música. Depois disso, voltamos a curtir o show com todas as nossas forças. Ao pé do ouvido de Victor falei:
   -Esse é o melhor dia da minha vida!
   -O meu também!
   -Eu te amo muito sabia?
   -Sabia. – Novamente o ar de deboche tornando seu rosto ainda mais lindo.
   -Bobo.
   -Eu também te amo muito. – Sorri, com a sensação de que meu coração tocava bateria e não mais batia.
   Continuamos a curtir o show. Jen Ledger, tocava muito mesmo, eles eram bons demais. A última música do show foi “Collide” e eu voltei a chorar, era a despedida dos meus ídolos. Minha banda. Eles se despediram, declararam seu amor pelo público brasileiro, agradeceram, e falaram mais uma vez do amor de Deus. O melhor dia da minha vida, sem dúvidas. Era ótimo e fascinante pensar dessa forma, era como se meus pés não tocassem mais o chão. De repente me veio uma repentina tristeza ao ver que estava acabando.
   Victor mandou uma sms para Willian para que eles nos encontrassem na praça de alimentação montada na saída da arena do show. A fome estava grande, pedindo por um lanche. Fomos de mãos dadas e dedos entrelaçados até a praça, contemplando a luz prateada do luar.
   -Você tem plena consciência de quem você pediu em namoro? – Falei debochando.
   -Claro que tenho. A garota mais neurótica, irritante, linda, estilosa, maluca, cheirosa, formosa, enfim, a garota perfeita pra mim. – Ele falou rindo, e eu sorri reconhecendo que ele me conhecia melhor do que a minha mãe.
   -Te amo do tamanho do céu sabia?
   -Ah é? Pois eu te amo do tamanho do céu vezes os grãos de areia da praia.
   -Te amo infinitamente vezes o infinito.
   -Te amo o tamanho do céu vezes os grãos de areia da praia, vezes as gotas de água dos oceanos.
   -Perdeu.
   -Como assim perdi?
   -Nada ganha de “infinitamente vezes o infinito”.
   -Te amo infinitamente vezes o infinito. Pronto empatamos.
   -É acho que sim.
   Ele me deu um beijo no rosto, e rimos bastante. Chegamos à praça de alimentação e dentro de cinco minutos, encontramos Willian e Catarina. Nos sentamos em uma mesinha redonda. Eu fiquei ao lado de Victor e de Catarina. Victor passou seu braço pelas minhas costas me abraçando.
   -Mãe, pai... Então, vocês sabem que eu e a Natalie, então... – Ele começou a falar, totalmente sem jeito, se perdendo em meio às palavras. Willian o interrompeu.
   -Já sei, até que enfim você parou de enrolar a menina e resolveu pedir ela em namoro.
   Olhei pra Willian surpresa.
   -É isso aí, agora somos oficialmente um casal.
   Eu tive que rir daquela cena, era tão, estranha.
   -Ai que bom meu filho, essa menina vale ouro, você fez a escolha certa. -Eu ri encabulada com as palavras de Catarina, e eu com medo de que ela não gostasse de mim.
   Willian sorriu e deu um tapinha nas costas de Victor.
   -Até que enfim!
   Todos riram. Nossa, eu namorando. Quando eu imaginaria ver aquele anel de prata enrolado no meu dedo anelar da mão direita? Quando eu imaginaria estar abraçada em alguém que eu amava tanto e ainda conversando com seus pais? Era tanta coisa que não dava pra explicar, era incrível demais pra uma mentezinha adolescente e limitada como a minha. Comemos e voltamos para o carro. Eu deitei minha cabeça no ombro de Victor e ele me abraçou de um jeito aconchegante. Willian abriu o teto solar de trás do carro.
   -Por que não dão uma espiadinha no céu crianças?
   Victor me olhou com olhar de “vamos?”. Eu levantei e ele também e ficamos com as pernas pra dentro do carro e o corpo pra fora. O céu estava lindo, todo estrelado. Ficamos contemplando aquela arte, até que Victor começou a cutucar a minha orelha e rir. Eu pra não deixar barato apertei sua bochecha, e com a minha mão ainda em seu rosto ele apertou meu nariz. Depois de rirmos daquilo ele apertou minhas duas bochechas com uma mão só (contraindo-as), fazendo meus lábios se sobressaírem em um biquinho e sorriu. Ao fazer isso, se aproximou da minha boca, e quando seus lábios estavam colados nos meus, soltou minhas bochechas. Quando o beijo estava sendo finalizado ele mordeu meu lábio inferior, e depois soltou, nós ríamos muito. Depois, ele começou a fazer caretas engraçadas demais, eu fiz também e começamos uma competição, mas confesso que ele ganhou. Voltamos pra dentro do carro quando íamos entrar na rodovia. Willian fechou o teto solar. Pra não falar na frente De Willian e de Catarina (que espantosamente estavam em silencio) Victor pegou o celular e digitou uma sms.
   “Minha linda, eu te amo tanto, e com certeza essa noite ficará pra sempre em minha memória, foi muito especial pra mim e o meu amor por você só faz crescer s2”
   Ele passou o celular pra mim. Meu rosto prontamente se modificou, minha expressão não negava o quanto eu havia ficado feliz com aquilo. Devolvi o celular sorrindo, peguei o meu e também digitei uma mensagem.
   “Meu amor, te amo mais do que imaginei amar alguém um dia, você me trouxe a felicidade de volta, nunca vou esquecer esse dia porque ele foi o segundo melhor dia da minha vida. Meu feioso, sempre vou te amar.”
   Passei o celular pra ele. Ele fez uma cara de alegria e curiosidade ao mesmo tempo. Me devolveu o celular sorrindo, pegou o dele e digitou mais uma mensagem.
   “Também vou te amar pra sempre. Mas, por que o segundo melhor dia? Qual foi o primeiro?”
   Novamente ele me passou o celular. Eu ri, passei o celular de volta. Peguei o meu e digitei outra mensagem.
   “Curioso haha. O primeiro melhor dia foi aquele em que eu te conheci.”
   Passei o celular pra ele e ao mesmo tempo o abracei, e repousei minha cabeça sobre o ombro dele. Ele leu, largou o celular no banco e me abraçou forte. Willian e Catarina continuavam em silêncio, acho mesmo que Catarina havia dormido. Ficamos abraçados, até que eu peguei no sono, já que ele me contaminara. Peguei no sono, no ombro de Victor.
   Quando chegamos, Victor me acordou.
   -Acorda princesa nós chegamos.
  -Oi? – Falei com cara de sono – Eu dormi a viagem inteira?
   -Sim. Estava tão linda dormindo que eu não quis te acordar. –Victor falou sorrindo.
   -Bobo.
   Willian parou na frente da minha casa. Peguei minhas coisas, Victor abriu a porta do carro pra mim e eu saí.
   -Tchau pessoal obrigado por tudo mesmo, boa noite.
   -Tchau minha nora! – Willian disse. – Não por isso, boa noite.
    Victor desceu do carro para se despedir.
    -Tchau minha princesa, descansa, dorme bem e sonha comigo.
    Ele me pegou pela cintura e me beijou.
   -Tchau meu príncipe, fica com Deus e dorme bem. Te amo.
   -Também te amo.

   Ele entrou de volta no carro e  enquanto eu caminhava rumo a porta, senti seu olhar me acompanhar até Willian arrancar o carro. Entrei em casa, fui pro quarto, pus um pijama e capotei na cama sem nem pensar em tirar maquiagem ou coisa do tipo. Victor era um anjo, o meu anjo. 

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